sábado, 6 de janeiro de 2018

É preciso voltar a venerar a palavra escrita!



O historiador Edward Gibbon, conhecido colosso das letras inglesas, afirmou certa vez em tom colérico que não trocaria seu amor pela leitura nem mesmo pelos exóticos tesouros das índias. O filósofo e matemático francês Rene Descartes dizia que a leitura dos bons livros era como ter o privilégio de participar das conversas entre os melhores espíritos dos séculos passados.

Um de nossos grandes críticos literários, o já infelizmente falecido Antônio Cândido, escreveu em seu ensaio “O direito à literatura”, que a leitura possibilita a vivência de nossos problemas sociais e existenciais de maneira dialética, já que a poesia, a prosa e a ação dramática constituem em si todas as formas de pensamento que atravessaram os séculos no mundo ocidental, daí uma relevância essencial para se cultivar o gosto pelas letras.

Cândido, em outro ensaio bastante conhecido, analisa a tradição literária brasileira de 1900 até 1945 e chega à devastadora conclusão que, primeiro, nunca tivemos uma elite fortalecida e verdadeiramente letrada e, segundo, que o ano de 1930 foi avassalador para qualquer pretensão de projeto literário social no Brasil.

Segundo o autor, nesse ano a queda do mercado editorial é catastrófica porque, junto com ela, o Brasil vive a ascensão da era das radionovelas e do cinema. A relação entre os escritores e o público de massa, que sempre havia sido problemática, fica ainda mais remota e difícil, já que o texto escrito, a “literatura literária” por assim dizer, começa a viver um período de relativa crise com o surgimento dos novos meios de comunicação e entretenimento – a televisão e o rádio –, que exploravam exaustivamente aquilo que no livro é limitado e se torna difícil para quem não está enquadrado dentro de certa tradição: o som, a palavra oral e a imagem.

O grupo de analfabetos havia diminuído consideravelmente neste ano e como consequência aumentado o grupo de leitores, mas à medida que o número desse último grupo crescia, eles rapidamente eram conquistados pelos novos meios de comunicação de massa. Cândido conclui que o povo brasileiro, então, tem grandes dificuldades para entender o romance, por exemplo, como forma de entretenimento, o que isola a literatura dentro de grupos restritos, elitizando-a completamente. Isso foi resultado, segundo ele, do salto que demos, pulando a fase escrita e literária, e indo diretamente para a era do rádio, da televisão e da imagem, daí a dificuldade para popularizar a leitura de livros em nosso país.

Nós, membros da Dissidência Política do DF, defendemos um retorno absolutamente essencial aos livros. Acreditamos que, no Brasil, a televisão tem sida inimiga do povo e deve ser combatida, sobretudo as grandes emissoras, que têm, cada vez mais, prestígio entre nossa população, que acredita ingenuamente estar consumindo material e conteúdo puramente recreativo, sem ter nem ideia desse terrível projeto propositalmente colocado em prática no país para afastar a classe trabalhadora da leitura enquanto a aproxima sorrateiramente das formas mais baixas e pobres de fabulação artística, como novelas e filmes que falta nenhuma fariam se não existissem.

É preciso uma grande mobilização nacional, seguindo o luminoso exemplo da Venezuela de Chávez, que criou um programa de combate ao analfabetismo, incentivando a leitura costumeira e voraz entre jovens, dos clássicos aos contemporâneos, da literatura ao jornalismo político. A lista do grande líder patriota venezuelano era de fato formidável, uma dieta de clássicos espetacularmente rica e nutritiva que ia do “Dom Quixote” até a filosofia alemã.

Informados dessa nossa deficiência, é preciso que lutemos coletivamente para um retorno à era da palavra escrita! O povo precisa redescobrir seus encantos para que se fortaleça com conhecimento real e verdadeiro. É preciso popularizar o gosto pelos livros, pela nossa literatura, pelos nossos escritores, tornando-os mais essenciais ao imaginário popular do que bens materiais.

É necessário que a mentalidade nacional esteja univocamente concentrada na ideia de que os livros são os tesouros mais preciosos, as bases e os alicerces da nação, e que essa paixão deve ser passada de pai pra filho como a joia mais importante de nossa cultura.

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